segunda-feira, 2 de abril de 2007

Atrocidades Muçulmanas, vítimas Muçulmanas e o nosso silêncio

Por Bradley Burston
Publicado no Jornal Haaretz
Traduzido por Ilan Gottlieb


Atrocidades Muçulmanas, vítimas Muçulmanas e o nosso silêncio

Como judeus, nós aprendemos a não falar sobre isso. Desde cedo, aprendemos que não nos diz respeito. Como esquerdistas, nós aprendemos a interpretar isso num contexto maior, como uma reação natural à ocupação, colonialismo e opressão do Ocidente.

E assim não nos manifestamos quando nesse mês um bebê palestino chamado Hassan Abu Nada foi morto no fogo cruzado entre Hamas e Fatah na cidade de Beit Lehiya, ao norte de Gaza. Sua avó foi ferida. Isso não teve nada a ver conosco.

O mesmo ocorreu em Dezembro, quando Palestinos mataram os três filhos de um chefe da segurança do Fatah, crianças de três a nove anos a caminho da escola. Novamente pensamos: quem somos nós para fazer julgamento de valores, protestar pelas crianças, levantar nossa voz.

Assim como também não externamos nossos pensamentos quando, numa corte em Frankfurt, uma mulher muçulmana teve seu pedido de divórcio negado, mesmo sob as alegações dela de que seu marido muçulmano a batia e ameaçava de morte. A juíza Christa Datz-Winter explicou sua decisão dizendo que “o casal vinha do passado cultural Marroquino, no qual é comum que maridos agridam suas esposas”. O New York Times reportou o caso. A juíza ainda acrescentou que o “Corão permite tais agressões físicas”.

E assim nós engolimos em seco e nos calamos toda manhã quando chegam as notícias dos atos de obscenidade moral vindas do Iraque. Como por exemplo neste último domingo, quando uma mesquita Sunita foi invadida, seu minarete explodido e o edifício incendiado, numa aparente retaliação à explosão de um carro bomba em frente a uma mesquita Shiita, no dia anterior.

Muçulmanos deveriam poder rezar sem que outros muçulmanos os explodam em pedacinhos. Crianças muçulmanas deveriam poder ir para a escola e voltar sem que outros muçulmanos os metralhem com armas automáticas. Mulheres muçulmanas deveriam poder viver suas vidas sem que seus maridos tivessem o direito de espancá-las ou ameaçá-las de morte.

E nós, como não-Muçulmanos, deveríamos poder falar sobre isso.

Não é um tópico fácil. Especialmente para os Judeus e esquerdistas entre nós, educados em lugares como Berkeley, onde recebemos nossos diplomas em “Cegueira Seletiva”, com especialização em “Entendendo as causas da violência quando praticada por Muçulmanos”.

Nós fomos ensinados a investigar, publicar e condenar cada instância de racismo, violência, injustiça e humilhação quando praticada por Judeus Israelenses contra Muçulmanos Palestinos. E é assim mesmo que tem que ser.

Mas nós também fomos educados que seria racismo impor valores ocidentais aos atos de Muçulmanos, mesmo, ou especialmente quando, eles vinham das correntes mais extremas do Islã.

Portanto, nós podemos facilmente entender todas as atrocidades de Muçulmanos contra Muçulmanos no Iraque como sendo respostas diretas e legítimas à ocupação Americana e Britânica.

Nos ensinaram errado.

Nós podemos entender o terrorismo em Bali, em London, e nas Torres Gêmeas como uma ebulição do ódio sobre o expansionismo Americano e a repressão militar Israelense.

Nos ensinaram errado.

Existem, é claro, aqueles judeus cuja cegueira seletiva funciona em outra direção, condenando Muçulmanos em toda oportunidade, como se isso fizesse os erros Judeus perdoáveis e esquecíveis. Como se nós pudéssemos ser considerados morais baseando nas faltas morais dos nossos vizinhos.

Isso é o que deveríamos ter sido ensinados: Violação dos direitos humanos é violação dos direitos humanos, independente da cultura do perpretador, independente da cultura da vítima.

Isso é o que deveríamos ter aprendido: Uma maneira de demonstrar compaixão pelas vítimas é parando de demonstrar sensibilidade pelo agressor. Mesmo se os dois forem Muçulmanos. Porque é nossa função gritar. Porque as vítimas são seres humanos. Porque os vilões precisam ser denunciados.

Nós fomos ensinados a sentir culpa, enquanto deveríamos ter sido ensinados que atos de maldade são responsabilidade de quem os pratica.

No final, aqueles entre nós que perdoam os atos de fanatismo Islâmico contra os próprios muçulmanos, aqueles entre nós que explicam esses crimes colocando a culpa no ocidente, ou em nós mesmos, também são racistas.

Efetivamente, nós estamos falando que eles não podem ser responsabilizados por suas ações, como seria qualquer ser-humano.

Efetivamente, nós estamos falando que nós os fizemos quem são.

Efetivamente, nós estamos falando que o homem-bomba não tem a habilidade de discernir entre o certo e o errado. Estamos também falando que eles podem fazer o que quiserem com gente deles próprios.

Há racismo na nossa visão, e megalomania, e covardice, e fraqueza. Os terroristas sabem disso. Se alimentam disso.

Eles foram bem educados.