sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Evidence Based Medicine - first of many

Troubled mind. That's what I (and Janis Joplin) gather from the cardiology state of mind. Hard to believe, isn't it, that evidence based medicine has stopped short of the biggest issue: Medicine as an art cannot be confined to practice guidelines. There is no space for imagination in guidelines, no space for art, for individualized medicine. And those of you out there sharing the same thoughts are probably been called heretics. But no, stand up! Heretics are those who try to make medicine flat!

domingo, 9 de novembro de 2008

Violence on TV - Let's not censor it.

The fact that TV and video games influence the minds of people is undisputed and has been extensively demonstrated, otherwise Coca Cola would not spend billions of dollars every year on TV advertising. This is no different when the topic is violence, but unlike simple Coca Cola advertising, the consequences are graver than getting fat.

The real question is not whether violence on TV generates violence in real life – the important question is how to address this problem. The simple minded people are the first to stand up offering the most effective solution: “Let’s censor violence!” Why not, after all the government has the role to drive society with a close look of a parent to a child.

This line of thought is dead wrong for several reasons. Let’s calmly address them one by one.

1)    Violence is not black and white. The realm of TV programs is far from the binary option between comedy shows and Rambo. What about James Bond movies? Everybody is always carrying a gun –are they to be considered violent? What about American football? What about live cameras in Iraq and Darfur that bring world reality closer to us and thus make people think more about it?

2)    Another practical issue is what is violence? Is it just guns and blood? What about sex? And cursing on TV? Violence is very subjective, like love and beauty. Who is to determine what is right and what is wrong? The quick answer: The government. Well, the government is not a supernatural power that swiftly runs the world on protocols like a machine. Government is made of people, fallible and full of prejudices like most of us. There is no government in an impersonal way – there are people ruling other people, the question becomes how much authority I am willing to give this ruling class to determine what, when or how I live.

3)    Censorship cripples liberty. This is crystal clear and does not need explanations. The only instance when crippling liberty is allowed is to overcome a greater power that is crippling liberty itself. Allow me to give a practical example: should we censor a TV program that defends the right of the white race (if there exists such a thing as race) to enslave black people? The answer is of course YES, because it crosses the line that divides one’s liberty of speech and another’s right to live freely in liberty. Let me be very clear about this: Liberty of the press DOES NOT mean that everything is publishable. Your right to publish ends where you cross the fine line of someone else’s universal rights. Now -- it is a fine line, and we should spend time discussing about this line and not about universal censorship of violence.

4)    Recently in Venezuela, a country that neighbors Brazil, Hugo Chávez has censored an entire TV station, the biggest in Venezuela, and the only one with a dissenting voice because he and his associates felt that this TV station showed inappropriate programs that questioned the government. So, he CENSORED it.

5)    The issue of how much government can influence one’s life is worth discussing here. Ronald Regan eloquently said in his inauguration address to the nation, and I quote: “In this present crisis, government is not the solution to our problem.  From time to time, we have been tempted to believe that society has become too complex to be managed by self-rule, that government by an elite group is superior to government for, by, and of the people. But if no one among us is capable of governing himself, then who among us has the capacity to govern someone else?” End of quote. I believe that history has proven that more government control does not result in more liberties. Quite the contrary – the case study of government control is the Soviet Union under Stalin. Try preaching to the political prisoners sent to the Gulag that they need more government.

 

I am sincerely concerned with the backwards motion the world is taking today. The French Revolution changed the world in such a way that we became to believe that freedom is given for granted, that we have it no matter what. This is a grave mistake. Unfortunately mankind has demonstrated over and over again that dictatorship and oppression are the natural state of affairs, instead of liberty and freedom.

 

For the simple-minded the path is clear: If we feel something is wrong let’s censor it by force. What they fail to grasp is that universal liberty is an essential component of human development; it does not guarantee that the right path is always chosen, but it certainly creates an environment where the right path is MORE FREQUENTLY chosen. It’s not 100% proof, but it is certainly the best we have.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Atrocidades Muçulmanas, vítimas Muçulmanas e o nosso silêncio

Por Bradley Burston
Publicado no Jornal Haaretz
Traduzido por Ilan Gottlieb


Atrocidades Muçulmanas, vítimas Muçulmanas e o nosso silêncio

Como judeus, nós aprendemos a não falar sobre isso. Desde cedo, aprendemos que não nos diz respeito. Como esquerdistas, nós aprendemos a interpretar isso num contexto maior, como uma reação natural à ocupação, colonialismo e opressão do Ocidente.

E assim não nos manifestamos quando nesse mês um bebê palestino chamado Hassan Abu Nada foi morto no fogo cruzado entre Hamas e Fatah na cidade de Beit Lehiya, ao norte de Gaza. Sua avó foi ferida. Isso não teve nada a ver conosco.

O mesmo ocorreu em Dezembro, quando Palestinos mataram os três filhos de um chefe da segurança do Fatah, crianças de três a nove anos a caminho da escola. Novamente pensamos: quem somos nós para fazer julgamento de valores, protestar pelas crianças, levantar nossa voz.

Assim como também não externamos nossos pensamentos quando, numa corte em Frankfurt, uma mulher muçulmana teve seu pedido de divórcio negado, mesmo sob as alegações dela de que seu marido muçulmano a batia e ameaçava de morte. A juíza Christa Datz-Winter explicou sua decisão dizendo que “o casal vinha do passado cultural Marroquino, no qual é comum que maridos agridam suas esposas”. O New York Times reportou o caso. A juíza ainda acrescentou que o “Corão permite tais agressões físicas”.

E assim nós engolimos em seco e nos calamos toda manhã quando chegam as notícias dos atos de obscenidade moral vindas do Iraque. Como por exemplo neste último domingo, quando uma mesquita Sunita foi invadida, seu minarete explodido e o edifício incendiado, numa aparente retaliação à explosão de um carro bomba em frente a uma mesquita Shiita, no dia anterior.

Muçulmanos deveriam poder rezar sem que outros muçulmanos os explodam em pedacinhos. Crianças muçulmanas deveriam poder ir para a escola e voltar sem que outros muçulmanos os metralhem com armas automáticas. Mulheres muçulmanas deveriam poder viver suas vidas sem que seus maridos tivessem o direito de espancá-las ou ameaçá-las de morte.

E nós, como não-Muçulmanos, deveríamos poder falar sobre isso.

Não é um tópico fácil. Especialmente para os Judeus e esquerdistas entre nós, educados em lugares como Berkeley, onde recebemos nossos diplomas em “Cegueira Seletiva”, com especialização em “Entendendo as causas da violência quando praticada por Muçulmanos”.

Nós fomos ensinados a investigar, publicar e condenar cada instância de racismo, violência, injustiça e humilhação quando praticada por Judeus Israelenses contra Muçulmanos Palestinos. E é assim mesmo que tem que ser.

Mas nós também fomos educados que seria racismo impor valores ocidentais aos atos de Muçulmanos, mesmo, ou especialmente quando, eles vinham das correntes mais extremas do Islã.

Portanto, nós podemos facilmente entender todas as atrocidades de Muçulmanos contra Muçulmanos no Iraque como sendo respostas diretas e legítimas à ocupação Americana e Britânica.

Nos ensinaram errado.

Nós podemos entender o terrorismo em Bali, em London, e nas Torres Gêmeas como uma ebulição do ódio sobre o expansionismo Americano e a repressão militar Israelense.

Nos ensinaram errado.

Existem, é claro, aqueles judeus cuja cegueira seletiva funciona em outra direção, condenando Muçulmanos em toda oportunidade, como se isso fizesse os erros Judeus perdoáveis e esquecíveis. Como se nós pudéssemos ser considerados morais baseando nas faltas morais dos nossos vizinhos.

Isso é o que deveríamos ter sido ensinados: Violação dos direitos humanos é violação dos direitos humanos, independente da cultura do perpretador, independente da cultura da vítima.

Isso é o que deveríamos ter aprendido: Uma maneira de demonstrar compaixão pelas vítimas é parando de demonstrar sensibilidade pelo agressor. Mesmo se os dois forem Muçulmanos. Porque é nossa função gritar. Porque as vítimas são seres humanos. Porque os vilões precisam ser denunciados.

Nós fomos ensinados a sentir culpa, enquanto deveríamos ter sido ensinados que atos de maldade são responsabilidade de quem os pratica.

No final, aqueles entre nós que perdoam os atos de fanatismo Islâmico contra os próprios muçulmanos, aqueles entre nós que explicam esses crimes colocando a culpa no ocidente, ou em nós mesmos, também são racistas.

Efetivamente, nós estamos falando que eles não podem ser responsabilizados por suas ações, como seria qualquer ser-humano.

Efetivamente, nós estamos falando que nós os fizemos quem são.

Efetivamente, nós estamos falando que o homem-bomba não tem a habilidade de discernir entre o certo e o errado. Estamos também falando que eles podem fazer o que quiserem com gente deles próprios.

Há racismo na nossa visão, e megalomania, e covardice, e fraqueza. Os terroristas sabem disso. Se alimentam disso.

Eles foram bem educados.

domingo, 11 de março de 2007

O Tiro no Pé do Anti-Americanismo

O sentimento anti-americano tão prevalente no mundo hoje não tem uma explicação simples, mas certamente passa pela ligação das seguites idéias: o mundo é cruel e injusto; há um super-poder no mundo; esse super-poder é capaz de controlar o destino da humanidade; por consequência, o mundo só se encontra nessa situação porque assim os EUA o querem.

Além de equivocado, esse pensamento não é eficaz em melhorar o mundo por errar na anamnese (avaliação), no diagnóstico, e consequentemente na presumida terapêutica.

Poucos avaliam as mazelas do mundo de forma idônea. A grande maioria tem olhar preconceituoso e visão míope. Enxerga-se os EUA como uma massa coesa de gente indiferente para com os rumos da humanidade, de gente irresponsável e gananciosa, que só pensa em dinheiro, que não tem valores e que caga para o destino do mundo. Poucos têm o discernimento de entender que um país tão diverso e aberto a idéias não tem uma cara só, e que há no EUA a mesma proporção de gente boa e gente ruim que nos outros países do mundo. E ainda menos gente tem a hombridade de reconhecer que os defeitos caracterizados acima não são propriedade de americanos, mas sim do ser humano em geral. Repetidas vezes na história já comprovamos que a relação do homem com o Poder é complicada – se essas mesmas pessoas que acusam fossem americanas, muito provavelmente teriam exatamente a mesma conduta dos americanos originais.

Em segundo lugar, o diagnóstico está errado. Os EUA são o país mais rico do mundo sim, mas ele não controla o destino da humanidade. Um grande amigo meu uma vez me disse que “nada acontece no mundo sem o dedo dos EUA”. Não há nada mais distante da verdade do que isso. Sem querer minimizar a importância americana, a influência exercida por ele nas decisões de cada governante no mundo é minúscula. Maior do que a maioria dos outros países, mas ainda assim minúscula. Por incrível que possa parecer, os valores pessoais têm, de uma forma geral, importância muito maior nas decisões que qualquer dinheiro ou diplomacia.

Esse pensamento preto no branco de bandido e mocinho descrito acima é resultado do achatamento da educação humana. Nós somos formidáveis práticos e patéticos filósofos. Programas como Big Brother Brasil só fazem esse sucesso assombroso porque permitem às pessoas julgarem o próximo, a colocarem pra fora o bandido e recompensarem o mocinho, como se isso pudesse ser julgado pelo que é transmitido entre os comerciais da Globo.

E finalmente a terapêutica resultante desse raciocínio não é eficaz porque não atinge o cerne da questão. Simplesmente derrubar o poder americano não resolve nada - não existe vácuo de poder. Assim que os EUA não forem mais uma super-potência, alguém entrará em seu lugar. Sem exercitar muito meu lado Nostradamus, podemos facilmente especular que não há muitos candidatos com potencial. Quem vai ser? China, Rússia, Irã, Índia? A próxima super-potência será execrada da mesma forma que os EUA são, pois mudar a fonte de poder só muda os interesses, não o âmago do homem. Se você não for o dominador, será o dominado. Minar a influência americana tem efeito contra-produtivo: os EUA são o país que mais respeitam as liberdades individuais, que mais prezam a democracia e a liberdade de imprensa entre os países citados acima.

As políticas e ações dos EUA estão longe de serem perfeitas. São pessoas como eu e você que comandam essa super-potência; e como humanos, são falíveis, têm preconceitos, sentimentos inexplicáveis e idiossincrasias. Não se pode confundir um governante nefasto - Bush - com um sistema de governo que ainda é dos melhores que a humanidade jamais produziu. A riqueza dos USA não provém da exploração dos países-clientes (tipo Brasil) e sim da poupança interna do país (veja por exemplo o lucro de uma empresa tipo Microsoft que vem 80% de dentro dos USA, se bem que é claro que eles adoram os 20% que vem de fora também).

A democracia americana propiciou avanços científicos e tecnológicos em escala jamais vista, além de abrigar muitos fugitivos de regimes totalitários. Pretender trocar a democracia americana pelo sistema imperial-clerical do Irã, onde o aiatolá supremo está acima do executivo, do judiciário e do legislativo, é muito burro. Vamos substituir o Bush, mas vamos deixar a democracia americana onde está, sem enfraquece-la porque todos nós (mesmo os que vivem no Brasil) vivemos melhor com ela. Devemos exercitar nossa crítica de forma construtiva, com o objetivo de mudar o rumo para onde achamos melhor - criticar os USA é lícito, apoiar o Chávez e o totalitarismo islâmico é uma estupidez. Caso esse poderio dos EUA terminasse hoje, em alguns anos estaremos nós todos a reinvidicar nossas vontades num mundo muito mais extremista, racista e surdo.

quarta-feira, 7 de março de 2007

Bill Gates

C-SPAN é uma empresa privada sem fins lucrativos que transmite todas as sessões do senado e congresso americanos, além de 2 ou 3 outros canais que transmitem programas com escritores, políticos, intelectuais, universitários, cientistas e outros. Eu tenho tido a maravilhosa oportunidade de morar nos EUA por 1,5 ano, e, como bom americano, tenho mais de 150 canais disponíveis – mas nenhum chega perto aos canais da C-SPAN (na verdade 99% é podre, assim como no Brasil e resto do mundo televisivo).

Bill Gates está depondo no Senado sobre competitividade americana em ciência e tecnologia. Não é réu obviamente; foi chamado porque entende pra caralho disso. O objetivo é aumentar a quantidade de pessoas que se interessa por esses assuntos e acaba seguindo carreira. Infelizmente, o absolutismo religioso está tomando conta várias partes diferentes do mundo, e algumas escolas americanas (públicas!) jogaram Darwin no lixo e ensinam que a evolução do mundo se deu por Adão e Eva. Esse Bill Gates é impressionante. Não é só inteligente. Ele toma decisões certas nas bifurcações da vida. Dois projetos principais na Fundação Bill e Melinda Gates: Educação e Saúde. E eles gastam milhões com isso por ano; a Renata é uma das beneficiárias, recebendo grants em TB e AIDS. Ouvindo-o depor, ele é realmente brilhante.

segunda-feira, 5 de março de 2007

Editorial Devarim #3

Este é o editorial da 3ª Devarim que é a revista da ARI, nossa sinagoga. Minha mãe, Marina Gottlieb, é quem assina esse texto.

Estamos vivendo de fato tempos difíceis. De apatia intelectual, de anti-semitismo aberto, de aumento violento do fundamentalismo. A tendência é escutar menos e falar mais, pensar menos e julgar mais, tolerar menos e bater mais.

Progressos da tecnologia, como a Internet, e da economia, como a globalização, são confundidos como desenvolvimento humano, quando na realidade são apenas ferramentas que somente se utilizadas de forma iluminada causarão alguma evolução no bem estar da humanidade.

O obscurantismo moderno não difere do passado. Sua raiz continua sendo a violenta disputa pelo poder, que para se perpetuar precisa inibir o livre pensamento e a exploração intelectual especulativa.

As novas características são as táticas de desinformação em massa e as alegações hipócritas e pseudo-científicas de que o direito à dominação do próximo é justificado como uma característica cultural e portanto inalienável.

Em 1670, em seu Tratado Político-Teológico, Baruch Spinoza criticava o obscurantismo de sua época. Ele começa a obra alertando para a tendência do clero em sedimentar crenças supersticiosas nas pessoas (manipulando suas emoções) de forma a ter controle sobre elas. Um ser guiado pelo medo e pela esperança seria facilmente manipulável para atingir os objetivos de poder. "Esforços imensos foram feitos para impor a religião, verdadeira ou falsa, com tamanha pompa e cerimônia que ela poderia suportar qualquer choque e ainda assim continuar a suscitar a mais profunda reverência em todos seus seguidores." (Tratado Político-Teológico, Prefácio – tradução livre).

A revista Devarim pretende ser mais uma voz contra o obscurantismo moderno, seja qual for sua origem ou vestimenta.

A sedimentação da idéia de que nascemos livres é muito frágil na história da humanidade – o homem sempre tendeu a querer dominar o próximo, tanto física quanto psicologicamente. Apesar da liberdade inata aparentar ser um conceito natural e absoluto, na verdade temos que lutar por ela permanentemente.

Muito freqüentemente o judaísmo progressista é tolamente rotulado como um "judaísmo light". Este pensamento, além de ignorante e preconceituoso, carece de fundamento histórico. A realidade é que o judaísmo sempre foi progressista e sempre evoluiu conforme as necessidades dos judeus. A abertura para a interpretação dos textos é constante e não foi suprimida em momento algum da nossa história, por mais que os comentaristas pós Shulchan Aruch (século XVI EC) sejam curiosamente rotulados como “os últimos” (acharonim). São os últimos, mas nenhum é o último.

O Rambam (Maimônedes – século XII EC) postulava no Guia dos Perplexos que o principal fator que impede o verdadeiro amor a Deus é a crença de que a interpretação literal da Torá seja o único caminho para permanecer fiel a seus valores. Segundo Rambam, o resultado da interpretação literal é a materialização de Deus, que resulta em idolatria.

Os textos bíblicos são atemporais porque não são registros históricos nem tratados científicos. Eles devem ser interpretados à luz do conhecimento e das necessidade do homem contemporâneo. De nada serve especular se de fato o Mar Vermelho realmente se abriu. No entanto a história do Êxodo é fundamental para a civilização, e serviu de base para todos os movimentos libertários modernos. É também ainda muito valiosa nos dias de hoje a idéia de que nossos antepassados foram escravos, e portanto não somos melhores que ninguém, nem temos o direito de oprimir o próximo.

Se perdermos os valores em detrimento à leitura literal, além de não estarmos praticando judaísmo, não estamos contribuindo em nada para com a humanidade.

Não, nós judeus progressistas não temos todas as respostas, e nos ocupamos a maior parte do tempo em colecionar e catalogar as perguntas. No entanto sabemos diferenciar entre obscurantismo e iluminação e este é o ponto de partida para a busca ativa das idéias que promovem a liberdade em todos os seus sentidos.

sexta-feira, 2 de março de 2007

Os quatro irmaos e o Iraque

Numa mesa de Pessach...

Irmão Mau: Não entendo essa guerra no Iraque. Não há chance de vitória, já foram gastos bilhões de dólares, mais de 3 mil soldados americanos já morreram e muitos mais voltaram feridos. Porque a coalizão não tira logo suas tropas e acaba logo com essa história?

Irmão Esperto: Você só disse metade dos números. As melhores estimativas são que tenham morrido 60 mil Iraquianos, e as piores estimam em 655 mil, num estudo feito por gente da Johns Hopkins que saiu no jornal médico Lancet. Eh absolutamente provável e previsível que se a coalizao retirar as tropas, a carnificina entre sunitas e xiitas matará muito mais gente, piorando em muito a crise humanitária que já existe.

Irmao Mau: Mas xiitas e sunitas se matam há mil anos, o que temos nós a ver com isso? Eles que se matem!

Irmao Que Nao Sabe Perguntar: Isso eh um dilema ético, e a sua é a pior das posturas. Lembre-se que a enorme maioria dos Iraquianos são pessoas de bem, e que estao sendo reféns de grupos terroristas dos dois lados. Apesar da coalizão não ser a responsavel por puxar o gatilho que matou tanta gente, ela tem sim que assumir a responsabilidade de que entrou no Iraque porta adentro, destituindo não só o Saddam, mas o resto da governança, criando o caos e a sensação de ausência de governo que vemos hoje. Foi uma incompêtencia absurda da coalizao de ter criado esse vácuo de poder público, o qual foi ocupado por milícias terroristas. Quem já esqueceu que depois da vitoria no Iraque (naquele curioso dia em que GW Bush apareceu no porta-avioes com o cartaz "Mission Accomplished") todo o governo do partido Ba’ath foi posto para fora sem ninguém assumir seu lugar? Quem já esqueceu da anarquia que reinou nas ruas de Bagdá, todo mundo entrando nas lojas e casas e roubando tudo que via pela frente, sob os olhares espantados dos soldados da coalizão que tinham ordens para fazer nada? Você acha certo agora simplesmente retirar as tropas? Tem muito mais em jogo do que as pessoas normalmente imaginam...

Irmão Tolo: Essa guerra sempre foi errada... E se o Saddam tivesse mesmo armas de destruicao em massa? O que os EUA tinham a ver com isso?

Irmao Esperto: Eu acho muito fácil agora, retrospectivamente, falar que essa guerra sempre foi errada. O mundo está cheio de previsores do passado. Na época eu apoiei a guerra, e ainda acho que, se voltasse ao passado, teria tomado a mesma postura novamente. Mas eu realmente esperava mais competência da liderança política em Washington e Londres. Esse vácuo de poder, o numero insuficiente de tropas desde o começo, a falta de planejamento são imperdoáveis. Vi uma entrevista com um militar de alto escalão do Pentágono (agora reformado) que disse que há um sistemático monitoramento pelo Pentágono de várias partes do mundo, com estudos estratégicos para caso haja um conflito, a resposta ser inteligente, informada e rápida. Na Guerra do Iraque, a decisão do Bush pegou os militares de surpresa, não havia plano.

Irmao Mau: Os EUA acham que podem mexer no tabuleiro do mundo como se estivessem jogando WAR. Eles que cutucaram o vespeiro, eles que tomem as picadas sozinhos.

Irmao Que Não Sabe Perguntar: Não concordo com essa postura. Mais uma vez culpando o jardineiro que quer retirar o vespeiro e não as vespas que picam as pessoas. Saddam era um criminoso, mas não um criminoso qualquer. Era extremamente poderoso, tinha em suas mãos um pais riquíssimo e era fonte de grande instabilidade regional e mundial. Foi ele que provocou a guerra Irã-Iraque, que matou 1 milhão de iranianos, foi ele que invadiu o Kwait.

Irmao Tolo: E não esqueça da campanha Anfal em 1988, na qual Saddam matou 50 mil Curdos no norte do Iraque - algumas fontes citam até 100 mil - lançando armas químicas como os gases Sarin e Mustarda sobre as cidades Curdas. O cara era realmente um monstro.

Irmao Que Nao Sabe Perguntar: Assim que assumiu o poder em 1979, Saddam mandou enforcar em praça pública os membros do Parlamento Iraquiano considerados inimigos, e por quase 25 anos ele governou o Iraque da forma mais truculenta possível. Apenas os integrantes do partido Sunita Ba’ath eram permitidos em cargos públicos, e eles só representavam 8% da população. O resto viveu sem direitos políticos, sem liberdades e aterrorizada. A coalizão agora não tem outra alternativa senão assumir o papel de polícia para impedir que um caos ainda maior reine no Iraque. Mas a tendência da mídia hoje é inocentar o criminoso e culpar a polícia por não conseguir impedir o crime do criminoso. Isto não faz o menor sentido e só acontece pela cegueira trôpega do anti-americanismo. Com um golpe de caneta, o terrorista que explode uma bomba com gás clorídrico num mercado cheio de gente comum, matando dezenas de pessoas e ferindo centenas, vira um guerreiro lutando pela liberdade contra o imperialismo americano. Além de não fazer o menor sentido, recompensa o bandido com mídia favorável, alimentado ainda mais esse tipo de atitude.

Irmao Mau: Mas o povo gosta dessa história do mocinho coitado e do bandido grande e forte. É claro que essa guerra é um fracasso, mas o ponto é: agora o que fazer?

Irmao Esperto: Confesso que não tenho a resposta, mas vamos organizar as possibilidades. Se a coalizão retirar suas tropas nesse momento, o Iraque mergulha de vez numa guerra civil, na qual morrearão milhões de pessoas; e será terra de ninguém, na qual as organizações terroristas encontrarão terreno fértil para fazer base e criar ainda mais instabilidade. A possibilidade de, depois de retirar as tropas, a coalizão tenha que voltar ao Iraque não é pequena, e seria numa situação muito mais desfavorável, onde morreriam muito mais soldados americanos. Além disso, a sensação de vitória se espalharia pelo mundo todo, fortalecendo muito os terroristas, que dependem da sensação de força para recrutar novos jovens para suas organizações. Dar-lhes a sensação de que eles estão vencendo seria desastrosa.

Irmão Esperto: Por outro lado, manter as tropas também é um grande problema. Além do custo que está chegando ao impagável mesmo pelo país mais rico do planeta, o cobertor de segurança fornecido pelos americanos é interessante para todos, menos para os EUA. Países como Arábia Saudita, Síria e Irã adoram ver os EUA sendo enfraquecido e endividado. O novo governo Xiita no Iraque não precisa de comprometer com os Sunitas e fazer um governo de real coalizão, pois os americanos estão lá apoiando-os. Os grupos terroristas continuam com o disfarce de guerrilheiros libertários, e não assumem sua responsabilidade para com seu próprio povo. França e Rússia ficam só rindo e dizendo: “falei pra não entrar...”. Enfim, todo mundo lucra, menos os EUA.

Irmão Tolo: Passa o Guefilte Fish!

domingo, 25 de fevereiro de 2007

A que vim

Várias vezes já questionei se essa era de hiper-informação não resulta em mais desinformação, se toda essa infinidade de dados não reduz todas as fontes ao mesmo patamar, nivelando por baixo. Não me entenda mal, não acho que mais informação é ruim de uma forma geral. Penso que educação é fator determinante para a libertação da humanidade, e informação é essencial no processo educativo. Mas na época que a informação tinha a assinatura de uma grande empresa, a responsabilidade de se confirmar o dado era mais essencial. Quando cada laptop vira um repórter, editorialista e formador de opinião, o público tem por um lado mais fontes de informação, mas por outro as informações são muito menos confiáveis, e vezes deliberadamente mentirosas. Quero rejeitar qualquer impressão que sou nostálgico, que tempos passados eram melhores que o presente; mas temos que entender o que mudou para reagir de forma inteligente. Resolvi assim entrar na dança e criar um blog com o objetivo de discutir política, idéias e ideais. Espero que na onda da mesma democratização da informação que leva a mais distorções, eu tenha a oportunidade de divulgar o que penso para meu círculo mais próximo de amigos, os quais me conhecem no calor do contato humano.

Conflito de civilizações ou de valores?

Álgebra, geometria, trigonometria, astronomia, filosofia e medicina são alguns dos muitos progressos científicos e humanos que os árabes contribuiram significativamente ao mundo. A cultura árabe embebida da religião muçulmana já foi um ambiente fértil para grandes mentes e grandes civilizações.

Coloquemos os pingos no Is.

Está claríssimo que o atual obscurantismo no mundo árabe é fruto desses árabes contemporâneos, e não dos árabes de forma genérica. É fruto desse Islã, e não do Islã.

O jihadismo desastroso que presenciamos hoje não é a revolta de um povo muçulmano oprimido contra o ocidente opressor. Não é uma revolta dos pobres do mundo contra os ricos do mundo. Não é uma reação cultural à depravação ocidental de morais.

Grande parte do povo muçulmano é oprimido sim, mas o opressor não é o ocidente, é o próprio governante. De todos os países com maioria muçulmana, apenas a Turquia tem um regime que podemos chamar de democrático, onde os três poderes têm igual representação e há relativa liberdade de expressão. A esmagadora maioria restante é governada no fio da espada por uma elite ditatorial, como Saddam governava o Iraque, como Assad governa a Síria, como Abdulah governa a Arábia Saudita e como o Conselho Guardião (designado pelo Aiatolá) governa o Irã.

Grande parte do povo muçulmano é pobre e vive na miséria sim. Arábia Saudita por exemplo, tem um PIB per capita similar ao da Argentina e 30% maior que o do Chile. Enquanto a Argentina tem 97% de sua população >15 anos alfabetizada e o Chile 96%, a Arábia Saudita tem apenas 79%. A Argentina e o Chile ocupam os lugares 34 e 37 no índice de desenvolvimento humano, respectivamente. A Arábia Saudita ocupa 77º lugar. O Brasil tem aproximadamente o mesmo PIB per capita que o Irã, mas o primeiro tinha em 2002/2003 91% da sua população em idade escolar estudando, enquanto no Irã esse número cai para 69%. O Brasil (que não é nenhum exemplo de desenvolvimento humano como todos sabemos) ocupa o 63º lugar, enquanto o Irã ocupa o 99º.* Está claro que no mundo árabe vontade política é o que falta, não dinheiro, que está todo concentrado em um mínimo grupo de famílias oligárquicas que dominam o petróleo, e deixam propositalmente o povo na miséria. Yasser Arafat, o idealista, tinha como única fonte de renda o salário da Autoridade Nacional Palestina (cujos recursos vinham de doações dos EUA e UE). Ao morrer, ele deixou de herança 300 milhões de dólares para a esposa que vive em Paris. Os territórios palestinos têm PIB per capita estimado em $2.302, aproximadamente 3,5 vezes menor que o do Brasil ($7.790); ou seja, não é bem uma situação de bonança financeira Palestina que levou Arafat a roubar esse dinheiro todo.

Daniella Cicarelli, Hugo Cháves, sexo e violência explicitos na TV, cueca de dólares, Big Brother Brasil, Bispo Rodrigues, revisão do Holocausto, Garotinho, crianças sendo arrastadas pelo asfalto, Guantánamo Bay, xenofobia européia, castração de clitóris e e escravização da mulher. É claro que o mundo passa por uma crise de valores. Parece que a Revolução Francesa e o Iluminismo foram há tanto tempo atrás que já os esquecemos, ou os consideramos tão inalienáveis que não lutamos mais por eles. Certamente, temos que ter muito clara a visão que o extremismo religioso não é a solução para a crise de valores – na verdade é uma das causas. A saída é mais iluminação e menos obscurantismo, mais igualdade e menos adestração, mais pluralismo e menos fundamentalismo, mais democracia e menos teocracia. Temos que ver muito claramente que o problema moral da civilização como um todo não está no sistema, mas sim nas pessoas que vivem nele. A história já demonstrou que é possível sintonizar iluminação com religião. O problema não está no livro, mas nos olhos de quem o lê.

*Fonte: Human Development Report 2005 – Acessado em Fev/2007. http://hdr.undp.org/reports/global/2005/pdf/HDR05_HDI.pdf